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terça-feira, 25 de julho de 2017

O IRMÃO DO BEATO SALU

 
 

Quem consegue, ainda, acompanhar B&B deve ter percebido que minhas postagens estão se tornando mais raras e inconstantes.

As razões são muitas....
 

 1) Escrever, seriamente, sobre vinhos, no Brasil, corresponde a organizar uma palestra sobre probidade, patriotismo, seriedade e honestidade para políticos do nosso país (na platéia uma meia dúzia de participantes).
 

2) A quantidade de "especialistas" que descobriram e escrevem sobre o vinho é assustadora e a cada dia aparecem mais e mais deles.

3) Não posso ter um público numeroso se escrevo sobre "Vide Bourse", "Blanchot Dessus", "Dents Chien", "Sussumaniello", "Spigau" etc.: A probabilidade dos leitores conhecerem estes vinhos é quase zero e percebi, finalmente, que estou postando para demonstrar, apenas, conhecimentos elitistas.
 
 

4) Estou de saco cheio.

O pouco interesse e o saco cheio limitaram minhas intervenções no blog, mas a total falta do que fazer me ajudou a encontrar "pérolas" que passariam despercebidas anteriormente.

Semanalmente leio e releio blogs italianos e franceses para me manter informando sobre o importante e verdadeiro mundo dos vinhos.

 Uma das páginas que frequento regularmente é "Intravino".

 Foi, justamente, no "Intravino" que encontrei um "irmão" do nosso "melhor sommelier", também conhecido por suas habilidades em escalar cruzes medievais, Manoel Beato Salu.
 

Acredito nunca ter encontrado alguém mais fantasioso e ridículo do que o palhaço do Fasano e Cia., mas estava enganado: Andrea Gori dá um banho no clown dos Jardins.

Leiam, por favor, um trecho do Gori comentando o "Dom Perignon" 2000 e entenderão como me sinto ridículo, inútil, superficial e dispensável descrevendo vinhos.
 

"... Ao mesmo tempo, porém, o "P2 2000" possui uma força solar magnética e explosiva que seduz e conquista; uma espécie de tônico que enriquece e rejuvenesce qualquer um que o beba.

Uma "Dom-definição" que consolida, na taça, detalhes que antes eram apenas perceptíveis: o floral amarelo, o pêssego de montanha, notas de ostras e opulência de especiarias: baunilha, café, nozes carameladas, mas que aparecem apenas no primeiro gole.
 

Em seguida explode, literalmente, uma cremosidade inusitada, amplitude grandiosa, permanência longa e transbordante e um final rico, festivo, onde o lime, leve defumado e algas "nori" se agitam para realçar uma maturidade na qual aparecem, também, notas tropicais de manga e ananás.
 

Como em uma suspensão temporal, o gole, ainda revela sulcos profundos, sensação de gesso no paladar e nunca há segurança de quando o vinho abandonará nossa boca.

Nada disso importa, afinal, porque terminamos a viagem e mergulhamos, por alguns segundos, na juventude do 2000 e extraímos todos os elementos positivos, depurando, como numa bela recordação, todos os elementos negativos e obscuros"

Ostra, algas nori, gesso, nozes carameladas, pêssego de montanha, suspensão temporal.......

Gori, quer saber de uma coisa?

VÁ À MERDA.

Bacco

terça-feira, 18 de julho de 2017

CHASSAGNE-MONTRACHET "VIDE BOURSE"


Estava escrevendo, a última das três matérias sobre o Timorasso, quando a chuva se fez presente e insistente em Santa Margherita.
 

Sem ânimo para enfrentar o temporal e beber no Sabot, um dos três bares que frequento, na cidade, abri uma das garrafas que comprei quando de minha última viagem pela Borgonha.

Verificando minha esquálida adega (não mais de 25 garrafas) os olhos se fixaram numa etiqueta de Chassagne-Montrachet "Vide Bourse" Premier Cru 2014, de Thomas Morey.

Thomas Morey, há alguns anos, é um dos meus fornecedores preferidos em Chassagne.

Jovem, simpático, sempre sorridente, nunca me deixou sair de sua adega de mãos abanando.
 

Mesmo quando o seu "Dents de Chien" está esgotado, "Bâtard-Montrachet" já era e "La Truffiere" nem sombra deixou, Thomas sempre encontra algumas garrafas de "Les Baudines", "Les Embrazées", ou outro Premier Cru, para mitigar minha insaciável sede de seus Chardonnay.
 

Morey , em sua "Domaine", de pouco mais de 20 hectares, é um dos raros viticultores locais que pode ostentar, no "cardápio" vinícola, dois dos menores Premiers Crus de toda a Borgonha: "Les Dents de Chien" e "Vide Bourse".

O "Les Dents de Chien" (0,63 h), "Vide Bourse" (1,32 h) encontram, em Chassagne-Montrachet, apenas dois "anões" rivais : "Criots-Bâtard-Montrachet" (1,57 h) ,"En Remilly" (1,56 h).
 

A produção total de "Les Dents de Chien" não alcança as 5.000 garrafas e a de "Vide Bourse" beira as 8.000.

Thomas Morey coloca no mercado perto de 300 unidades de "Les Dents de Chien" e 600 de "Vide Bourse".

Deu para perceber porque é difícil levar para casa estas duas denominações do Morey?

Apesar de raras e quase impossíveis de encontrar fora da região, as garrafas de "Vide Bourse e "Les Dents de Chien" não são proibitivas: O "Vide Bourse" custa 40 Euros e "Les Dents de Chien" 38 Euros.
 

O "Vide Bourse" 2014, que alegrou minha taça e três sentidos, apresenta grande limpidez, bela cor amarela e leves reflexos esverdeados.

Ao nariz , nos primeiros minutos, a manteiga se faz muito presente,mas cede rapidamente espaço para um festival de aromas que mudam constantemente.

Apesar dos múltiplos e mutantes odores, pude, claramente, perceber presenças florais e de cítricos.

Na boca a manteiga continua, mas ,domada , permite mais uma vez a presença de cítricos e, agora , de avelãs.

O final é impressionante, longo e ,se o enófilo não espaçar, longamente, os goles, o "Vide Bourse" não abandona o paladar.

Um belo e grande vinho que vale cada um do 40 Euros pagos.

Algumas observações.....

O "Vide Bourse" é um vinho branco de Chassagne-Montrachet.

Em Chassagne-Montrachet há apenas 117 hectares, de vinhas Chardonnay, que podem ostentar a denominação "Premier Cru".

Os vinhos de Chassagne-Montrachet são conhecidos e reconhecidos por sua excelência e disputados , quase como troféus, pelos enófilos -eu incluso- de todos os cantos do planeta.
 

Nos 117 hectares de Premier Cru, em Chassagne-Montrachet, o "Vide Bourse" ocupa menos de 0,8% do total da área.

Verificando e analisando estes dados eu me sentiria um perfeito imbecil se comprasse uma garrafa de "Timorasso Montecitorio", de Walter Massa, por 40 Euros e "imbecil" seria um grande elogio para quem compra um "Leopoldina Chardonnay" , da Valduga, por insanos R$ 120.

 
Bacco

Na próxima matéria: "O futuro do Timorasso".

 

 

quarta-feira, 12 de julho de 2017

TIMORASSO II O PASSADO


 

 
Nos anos 1980 a viticultura italiana deu uma guinada radical.

Mudou e modernizou a vinificação, especialmente, dos vinhos mais importantes, entre eles o Barolo, adotou, em muitos casos, mal e porcamente, a barrique, se deixou seduzir pelo "parkeriano" mercado americano e entrou de sola na corrida pela conquista do mercado dos chamados "vinhos internacionais".

Os viticultores acreditaram, à época, que bastaria o "Made in Italy" para asfaltar a estrada e conseguir o sucesso dos Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot etc. produzidos na Bota.

Deu certo, durante duas ou mais décadas, mas os preços e concorrência dos produtores do "Novo Mundo" sepultaram as pretensões e sonhos italianos.
 

Sobrou a fortuna para meia dúzia de "AIAS" (Solaia, Sassicaia, Ornellaia etc.) que continuam, até hoje, exportando tudo o que produzem e o fracasso para milhares de viticultores que não sabem onde enfiar suas garrafas "internacionais": O mercado se cansou dos vinhos "Frankenstein".
 
 
Enquanto vários  produtores buscavam o caminho fácil e cômodo  das uvas francesas, acreditando em um eterno "Eldorado" , outros , com mais visão e percepção,  voltaram os olhos às antigas castas abandonadas.

Baixa produção, difícil manuseio, pouca resistência às doenças, mercado limitado etc. sempre foram as desculpas mais comuns para justificar o abandono de muitíssimas castas autóctones.

O mercado mudou radicalmente e, agora, o consumidor pede vinhos com sotaque regional, que exprimam a cultura, a tradição e o "terroir" de onde são produzidos.

 O consumidor está com o saco cheio e, nos bares de Alba, ninguém quer o Chardonnay de Serralunga, o Merlot de Monforte, o Cabernet Sauvignon de Roddi, o Riesling de Roddino etc.
 

 O turista enófilo, ao visitar as "Langhe", não quer nem ver vinhos "internacionais" e sempre pede o ótimo autóctone "Verduno Pelaverga", uma bela Barbera ou um insuperável Barolo.

Os produtores mais atentos mudaram o rumo, mandaram os vinhos "internacionais" às favas, erradicaram castas francesas e apostaram nas uvas locais
 

Reapareceram, além do "Verduno Pelaverga", e só para lembrar alguns, o "Gamba di Pernice", "Pecorino", "Carricante", "Nerello Cappuccio", "Susumaniello", "Tazzelenghe" e..... o Timorasso.

Nem todos os vinhos obtiveram, até agora, o sucesso do "Verduno Pelaverga", "Pecorino" e "Carricante" (Etna Bianco) e "brigam" para buscar um lugar ao sol.
 

A briga, pelo reconhecimento e sucesso de um vinho, sempre passa por uma forte união e determinação dos produtores ou pela presença de um personagem carismático, liderando os companheiros, com tino comercial e profundo conhecimento de marketing,    

No "mundo" do Timorasso, Walter Massa é a liderança carismática.

 

Foi o primeiro a perceber que o Timorasso poderia se tornar a uva emblemática de sua região (Tortona e arredores), região que nunca produziu vinhos que pudessem competir, em fama e preço, com os primos das colinas de Asti e Alba.

Walter Massa é tão bom viticultor quanto marqueteiro: Seu "Timorasso Montecitorio" custa, no varejo, nada desprezíveis, 40 Euros.
 

Nada mau para um vinho que há 20 anos ninguém conhecia e que ainda hoje poucos conhecem.

O sucesso de Walter Massa fez escola e hoje todos os outros produtores (22), nos últimos anos, quase dobraram o preço de suas garrafas: Encontrar um Timorasso por menos de 15 Euros, atualmente, não é tarefa fácil.

Se o território de Tortona se transformará, ou não, na nova "Côte de Beaune", somente os séculos poderão responder, mas tenho um palpite: se os produtores de Timorasso não tomarem cuidado, não baixarem a bola e não diminuírem a ganância, o fracasso é quase uma certeza.

Bacco

quarta-feira, 5 de julho de 2017

TIMORASSO, PRESENTE, PASSADO, FUTURO

O PRESENTE




Jurei, sei lá quantas vezes, não mais frequentar festas, reuniões, encontros, festivais, degustações etc. de vinhos, mas a maldita curiosidade sempre vence e sempre, no final, me amaldiçôo por cair em tentação.
 

Se fosse religioso me aplicaria, pelas repetidas fraquezas, uma pena de 500 mil anos de purgatório.

Meu ateísmo, minha salvação.....

"Domingo haverá a sétima edição do "Quatar pass per Timurass" (passeio pelo Timorasso). Você vai?"

O amigo Franco Bertolone, para reforçar o convite, continuou: "Ótimos vinhos, salames, agnolotti, queijos.... imperdível!"

 

Mais uma vez a tentação venceu.

A possibilidade de comprar algumas garrafas, de safras mais antigas, do Claudio Mariotto e Giovanni Daglio, além de, finalmente, conhecer algumas vinícolas emergentes, me fez anuir e, se arrependimento matasse.....

Google Maps consultado, itinerário estabelecido, tanque abastecido e lá fui eu.

No roteiro inclui, além de Mariotto e Daglio, que conheço há mais de uma década, duas adegas, cujos vinhos, provados em diversas oportunidades, me haviam impressionado: "La Colombera" e "La Cascina Montagnola".

Para ter direito às degustações, das mais de vinte vinícolas participantes, do "Quatar pass per Timurass", era previsto um pagamento de 30 Euros que, religiosamente, deixei de pagar.

As razões?

Sou uma velha prostituta e sei que, depois das 11horas, é impossível enfrentar um exército de "sedentos" copos vazios.

Ao meio dia o assedio é total e ninguém consegue controlar, nem saber, quem pagou ou deixou de pagar.

 

Outra razão para deixar de pagar: não tinha nenhuma intenção de visitar todas as vinícolas participantes e encher a cara.

 Minha intenção: degustar, somente, os vinhos que iria comprar.

Ao chegar, à vinícola de Claudio Mariotto, já havia mais de vinte pessoas bebendo os Timorasso ali produzidos: "Derthona", "Cavallina" e "Pitasso".

 Mauro Mariotto, irmão de Claudio, gentilmente, me ofereceu uma prova dos vinhos de 2015.



Bons, como de costume, mas meu objetivo era a compra de safras mais antigas.

Aguardei a chegada de Claudio Mariotto que, finalmente, apareceu e foi recebido, pelos presentes, quase como uma estrela.

Deixei o entusiasmo e a poeira baixarem e me aproximei.

Aperto de mão, algumas brincadeiras e...... "Em outra ocasião podemos beber juntos, mas vender antigas safras, não".

 

Claudio, sem muito tato e nenhuma paciência, jogou um balde de gelo nas minhas esperanças de conseguir comprar algumas garrafas de "Pitasso" 2010/2012.

O estrelismo, quase francês, não é uma exclusividade de Mariotto: este comportamento começa a brotar em quase todos os produtores de Timorasso. 

Há, todavia, uma grande diferença: Os produtores franceses, da Côte de Beaune, produzem, há quase mil anos, brancos excepcionais e disputados a tapas por enófilos de todos os cantos do planeta.

O Timorasso é um grande vinho, concordo, mas é um ilustre desconhecido, até na Itália.

 

Sem me despedir, deixei Mariotto se perder nos braços dos fãs e me dirigi para a vizinha "La Colombera".

Na "La Colombera", o mesmo cenário...... uma multidão, com copos na mão , buscando mais um gole de Timorasso.

 Aguardei, pacientemente, durante longos minutos para ter acesso ao balcão e provar dois vinhos da casa: "Derthona" e o "Montino" 2015.

 

Bons vinhos, corretos, mas não excepcionais e que não me entusiasmaram, especialmente, quando me foi declarado o preço: 13 Euros pelo "Derthona" e 20 Euros por cada garrafa de "Montino".

 

Já passava do meio dia, quando, já com o saco cheio e arrependido de ter caído, mais uma vez, na tentação de prestigiar um evento vinícola, decidi me deslocar até a vinícola "Giovanni Daglio", almoçar e comprar seu ótimo Timorasso "Cantico" 2012.

Continua...

Bacco