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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO



"Olha, foi o melhor vinho que bebi nos últimos 80 anos..."


A exclamação foi proferida por meu amigo Celso a quem havia prometido uma garrafa de "Montrachet" para pagar uma aposta.


O "Montrachet" 2011, produzido pela "Lamy Pillot", entrou na minha adega somente após a interferência de Massimo Martinelli que é amigo de longa data de René Lamy, proprietário da vinícola.




Quando visitei a propriedade, em Chassagne-Montrachet constatei que, entre outras, ali eram produzidas 300 garrafas de "Le Montrachet".

Sem titubear, mas um pouco afoito, me ofereci para comprar 4 unidades.
René sorriu e retrucou que não venderia nem meia.

Já estou acostumado com as negativas dos "vignerons" e não me abalei (os Bachelet demoraram 4 anos para me entregar mais de 6 garrafas)

Apelei para Martinelli que, finalmente, conseguiu convencer o viticultor a me ceder 2 garrafas.

Quanto paguei?

Segredo!

Abri a garrafa de "Montrachet" algumas horas antes e a bebi na companhia de meu filho e do amigo.


Recuso-me em descrever o vinho: Minha descrição se tornaria tão pedante e muito parecida como as dos bufões que B&B tanto critica.

 Posso apenas afirmar que foi um dos três melhores brancos que já bebi: 1º Montrachet, 2º Montrachet, 3º Montrachet.

Devo confessar que bebi, apenas, três "Montrachet" em minha vida......

O chato do "Montrachet": se você não for participante do esquema "petrolão" não poderá apreciá-lo frequentemente.

Conselho: Quando estiver na França, com amigos, faça uma vaquinha, compre uma garrafa em uma enoteca, beba e..... depois comente.

Bacco


PS. O meu amigo Celso tem 80 anos....

  

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O CHARDONNAY LAVA JATO


Já percebera o fenômeno há algum tempo: Uma garrafa de grande Chardonnay (quando digo "grande", me refiro a um Premiere ou a um Grand Cru da Borgonha) não consumida totalmente, deixada na geladeira por um, dois, ou mais dias, melhora continuamente.

Uma curta história....


A idade já não permite as antigas e freqüentes incursões à adega e as taças diminuíram sensivelmente.






Diminuíram na quantidade, mas aumentaram na qualidade.
Minha adega guarda garrafas que fariam delirar até os abonados delinqüentes da lava-jato: Chevalier-Montrachet, Bâtard-Montrachet, Dents-de-Chien, Blanchot Dessus, Corton Charlemagne, Montrachet e mais algumas menos importantes, mas, também, excepcionais.

Minha última mania: A cada prisão, de um picareta famoso, abro uma garrafa importante.

A Lava-Jato fez estragos, irreparáveis, na Petrobras e na minha adega....
No último dia 15 , quando o juiz Moro aceitou a denuncia contra José Dirceu e João Vaccari, não resisti e abri um Puligny-Montrachet Premier Cru "Sous Le Puits" 2011.



A garrafa poderia ter sido ainda mais importante, mas José Dirceu, na cadeia, já não é novidade, então, um "Sous Le Puits" está de bem tamanho.....

Para que não conhece o "Sous Le Puits" informo que é um Premier Cru bem ao norte de Puligny- Montrachet, próximo de Blagny.

Jean Claude Bachelet pode se orgulhar de sua "domaine".


  Com vinhas que se estendem no Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Blanchot-Dessus, Les Murgers des Dents de Chien, La Boudriotte entre outros, produz o ótimo Puligny-Montrachet "Sous le Puits" que abri no final do dia, admirando o fantástico por do sol brasiliense, que embeleza ainda mais nosso céu nesta estação, enquanto ouvia Nancy Wilson interpretando, como ninguém, a bela "At Long Last Love" de Cole Porter.

  1. www.youtube.com/watch?v=2QLEB4K-0wk

Beleza!


Enquanto os dois picaretas amargavam mais uma noite de horror, eu degustava um Puligny, de bela cor amarela e com reflexos esverdeados.
Imediatamente o aroma de cítricos.
Em seguida avelãs torradas, leves notas amanteigadas e flores.

Na boca?

Bem..... na boca um festival de cítricos , damasco, abacaxi.....

Apesar da alegria, uma garrafa é demais.

No dia seguinte, mesmo horário, mesma garrafa, mesma homenagem aos mesmos presos.

O "Sous le Puits" não era mais o mesmo.

Os aromas, muito mais complexos, revelavam notas defumadas, ervas (endro e tomilho).

Na boca maior complexidade e, pasmem maior persistência.
Hoje, enquanto escrevo, bebo a última taça do que sobrou do "Sous le Puits".

Inacreditável!

O Puligny-Montrachet mudou novamente e para melhor, mas não ouso, com medo de me transformar em um "sommerdier" da AB$, revelar as novas sensações.

Resta uma dica: Quando puder abra uma garrafa de um grande Chardonnay da Borgonha e vá consumindo aos poucos (2/3/4 dias) e depois comente.

Puligny-Montrachet "Sous le Puits" 2011 Jean Claude Bachelet et Fils, 40 Euros.

Bacco


PS.  Estou guardando uma garrafa, de Bâtard-Montrachet 2007, para quando o Luiz Estevão for para a Papuda e uma de Montrachet 2009 para quando engaiolarem..... Adivinhe, quem?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CHARDONNAY COSECHA TARAPACÁ 2011




"Olha, esqueci de lhe avisar que aqui não há vinho, só cerveja".

O saco, que já estava cheio, com o programa de índio para o qual fora "convidado", estourou de vez.

O convite: Aniversário, de um sobrinho-neto (5 anos), em uma fazenda no município de Corumbá de Goiás.



O telefonema me alcançou quando transitava pela charmosa, calma e bucólica Águas Lindas (212 homicídios em2013).

Onde encontrar uma garrafa de vinho, decente, em Águas Lindas?
 
Já estava resignado, com a "obrigação" de ter que beber o meu segundo copo de cerveja em 2015, quando avistei um supermercado à beira da rodovia: "Tatico".
 


Tatico (José Fuscaldi Cesílio), para quem não sabe ou não lembra ,era deputado, foi cassado e, desde 1975, acumula mais processos que cabelos...
 
Sem muitas esperanças resolvi verificar se no estabelecimento haveria um vinho decente e, assim, gastar meu dinheiro para ajudar o Tatico no pagamento de seus advogados.
 
Horror dos horrores!


Mioranza, Catafesta, Dom Bosco, Del Grano, Goes, Sinuelo e outras delícias nacionais me desafiavam ameaçadoras do alto de uma gôndola.
 
Apavorado, com a seleção de indecências, já estava batendo em retirada quando, aleluia, percebi algumas garrafas diferentes.
 
Troquei de óculos e sorri.



 Cercadas por insultuosas etiquetas nacionais, empoeiradas garrafas de Chardonnay 2011 "Cosecha Tarapacá" eram oferecidas por R$ 25,80.
 
Sem pensar, nem mais um segundo, comprei uma unidade do vinho chileno e saí correndo com receio de engordar, ainda mais, as estatísticas de violência da aprazível Águas Lindas.

 Já notaram que nos churrascos familiares a cerveja é a rainha absoluta até você abrir uma garrafa de vinho?
 
Já percebeu o fenômeno, né......

Na chegada, os cumprimentos alegres de sempre, algumas piadas mais velhas dos que andar pra frente, um barulho infernal e..... "cervejinha geladinha"  à vontade.


Com calma, disfarçando um pouco, coloquei o "Cosecha Tarapacá" no gelo e fiquei de olho.

Os cervejeiros (todos) se aproximavam para reabastecer seus copos de plástico com "a loirinha geladinha", pegavam o vinho, liam o rótulo, giravam duas ou três vezes a garrafa ainda arrolhada e recolocavam no gelo.
 
Deixei o "Cosecha" dez minutos esfriando e saí à procura do maior copo de plástico daquele churrasco.

Finalmente encontrei.

Era gigantesco , horrendo e com a logomarca da Coca-Cola.

Com decisão abri a garrafa de Chardonnay, derramei mais de metade do conteúdo no vasilhame plástico e fique à espreita.

 Os cervejeiros chegavam de mansinho, olhavam de soslaio, desconfiados e, quando julgavam não atrair olhares indiscretos ,entornavam o vinho em seus copos com resíduos de espuma.



Em três minutos a garrafa de "Chardonnay 2011 "Cosecha Tarapacá" estava mais seca do que o cerrado brasiliense em agosto.

Sem grandes ilusões, instintivamente, levei a "taça" ao nariz e quase tive um ataque cardíaco: O vinho exalava aromas incríveis!

Apesar do cheiro de carne queimada que impregnava o ar, do odor de cerveja barata e do copo de plástico, o vinho, da Tarapacá, não se dava por vencido e acariciava minhas narinas.

Sem poder apreciar com o devido respeito, percebi, porém, que estava bebendo um Chardonnay nada banal .

Os decibéis da musica, sempre mais elevados, enviavam claros sinais que o churrasco terminaria somente quando a ultima lata de cerveja fosse sacrificada.
 
Aproveitando um descuido do anfitrião, que pela milésima vez visitava o banheiro, corri para o carro e somente parei na porta do "Tatico" de Águas Lindas.

Quase correndo alcancei a prateleira de vinhos, coloquei todas as garrafas de "Chardonnay Cosecha Tarapacá" no carrinho, paguei e retomei a estrada.

A pequena história do churrasco acaba aqui, mas a do "Cosecha Tarapacá" começa agora...

Deixei as garrafas repousando alguns dias e, uma bela tarde, resolvi provar, com calma, o Chardonnay chileno.


Taça de cristal, temperatura certa , pedaços de queijo e torradas para acompanhar.....o clima perfeito
.
Não sou especialista em vinhos chilenos.

Meu repertório é limitado, mas Chardonnay já bebi inúmeros e posso assegurar que, se não soubesse a origem, juraria que na taça havia um belo vinho da Borgonha e mais especificamente, um Meursault .

Intensa cor dourada com reflexos esverdeados.

Notas amanteigadas facilmente percebíveis, mas sem excessos.

 Em seguida, após a manteiga, apareciam avelãs tostadas e, finalmente, cítricos tomavam de assalto o nariz.


Na boca as mesmas notas amanteigadas e cítricas dominavam, mas concediam espaço para um surpreendente frescor e notável acidez que garantiria vários anos, ainda, para aquele "Cosecha Tarapacá 2011"

Um único porém: pouca persistência na boca (final curto)

Não creio seja possível comprar um Chardonnay melhor por R$ 25,80.
Se alguém encontrar , compre correndo, prove  e, se puder, comente.


Dionísio

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

BAROLO MONFALLETTO 1997



Minha adega "brasileira" não é nem a sobra do que foi, há alguns anos, quando cheguei a armazenar perto de 300 garrafas.

A diminuição do consumo (o fígado merece respeito...), os preços exorbitantes, os longos meses que passo na Europa, foram os motivos que me fizeram reduzir, drasticamente, o número de garrafas armazenadas,
Hoje as prateleiras, que quase envergavam sob um peso exagerado, guardam menos de 20 garrafas de brancos e pouco mais de meia dúzia de tintos.

A maior quantidade de brancos se deve ao nosso clima tropical.
Nunca consegui entender como alguém, com temperaturas que atingem, facilmente, 28/30/35º, possa beber, por exemplo, um Amarone com 16º de álcool.

Exemplo perfeito de eno-masoquismo!
Um raro domingo, com baixa temperatura, na "invernal" e ensolarada Brasília, me animou.
 Resolvi preparar um almoço piemontês: Carne Cruda, Lingua con Bagnet, Risotto con Funghi.

Carnes condimentadas, risotto importante..... Qual vinho?
Entrei na minha esquálida adega.
Duas garrafas de Clos-de-La-Roche 1995, duas de Brunello Biondi Santi 2001.

Em num canto, escondida e quase envergonhada, uma garrafa empoeirada, etiqueta danificada, chamou minha atenção.
A ergui, com o devido cuidado e sorri feliz; havia encontrado o vinho para acompanhar o meu almoço: "Barolo Monfalletto 1997 Cordero di Montezemolo".


Uma pequena escapada.....

Quem passar por La Morra, uma das capitais do Barolo, não pode deixar de visitar a praça principal da aldeia, bem no topo da colina, para admirar a estatua em homenagem ao vinhateiro e contemplar um dos mais emocionantes panoramas vinícolas do planeta.

É de tirar o fôlego.
Um mar de vinhas, que cavalgam as suaves "Langhe" e se perdem no horizonte.
Não ha foto ou filmagem que possa captar o panorama em toda sua real beleza.
Impressionante!

Para o turista ocasional é quase impossível identificar esta ou aquela colina, esta ou aquele vinícola, mas um enorme cedro do Líbano, perfeitamente visível a quilômetros de distancia, identifica a exata localização da propriedade: "Cordero di Montezemolo.


O cedro, plantado em meados do século XIX, no cume do monte Falletto, é um dos maiores símbolos da região, ponto de referência e orientação.
Voltemos ao Barolo Monfalletto 1997.
Abri a garrafa, ainda na adega, para deixar o vinho oxigenando por algumas horas.

Ao tirar a rolha o aroma inconfundível do Barolo invadiu o pequeno espaço com tamanha força que me deixou sem palavras, estático.
Derramei um dedo na taça e..... foi a festa.


Sem medo de errar posso afirmar que o Barolo Monfalletto 1997 da "Cordero de Montezemolo" foi o melhor que provei em 2015 e um dos melhores já bebidos nos últimos anos.
No nariz, a violeta começa dominante, em seguida aparecem aromas incríveis e incontáveis que se alternam continuamente não permitindo fácil identificação.

Um verdadeiro desafio ao nariz.
A cor grená, com reflexos atijolados, denuncia a idade.

Na boca, taninos quase aveludados, no ponto, bom corpo.
Um Barolo de raça, fino, elegante, complexo.


Um Barolo que convida, sempre e perigosamente, a mais um copo.
Não lembro quando e onde comprei aquela garrafa e curioso consultei os preços nas enotecas italianas.

O Barolo Monfalletto é o "base" produzido pela Cordero di Montezemolo que, na Itália, custa 25/30 Euros.

Continuei a pesquisa e pude verificar que a importadora "Tahaa" vende no Brasil o Monfalletto por "módicos" R$ 516.

A "Tahaa" deve ter comprado o vinho por 16 Euros quando o Real era cotado a três X um.

Façam as contas e......quando for à Itália compre algumas garrafas deste ótimo Barolo.

PS. O "Barollo" com dois "L" deve ser para justificar o PRE$$O

Bacco

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

AS DEZ PERGUNTAS




Li, com atenção, as matérias do Bacco sobre o Barolo.

Comentei que ele poderia ter ido mais fundo, ser mais didático, explorar mais o território, escrever um pouco mais daquilo que sabe , enfim.


Bacco me olhou com olhar cansado e respondeu :

Dionísio, você está brincando?

A esmagadora maioria dos enófilos

 brasileiros mal sabe onde fica

 Barolo e vai se interessar, por

 exemplo, em saber que Renato

 Ratti trabalhou por 10 anos na Cinzano no Brasil, que voltou para a Itália e em 1965 comprou sua primeira vinha de Barolo, que em 1969 , ao lado de seu sobrinho, Massimo Martinelli, inovou a técnica de vinificação e afinamento no Barolo Marcenasco , que realizou o primeiro mapeamento dos crus das “Langhe”? Se o “professores” da AB$ não conseguem diferenciar um Barolo de um Nero D'Avola , vou perder meu tempo com informações deste tipo?


Olhei para Bacco e me senti um verdadeiro idiota.
Bacco, estava coberto de razão!


Ele continuou:
Se você fizer 10 perguntas, sobre vinhos piemonteses, para os “professores”, os que escrevem sobre vinho, críticos sommeliers etc., longe do computador e do Google, eles erram 11 respostas”.

O discurso do amigo continuou martelando em minha cabeça.

Há muitos leitores, de B&B que frequentam as aulas da AB$, $BV, e outras arapucas do gênero, assim sendo, resolvi elaboram 10 perguntas fáceis que os enófilos poderiam propor aos “professores”.


1) Qual a uva mais cultivada no Piemonte (área plantada)?

2) Quantas DOCG há no Piemonte?

3) Cite 8 vinhos piemonteses produzidos com Nebbiolo

4) Quais e quantas são as aldeias que podem produzir o Barolo?

5) Qual a aldeia com maior área plantada de Nebbiolo da Barolo?

6) Qual a aldeia com a menor área plantada de Nebbiolo da Barolo?

7) Em qual província é produzido o Timorasso?

8) Qual a uva utilizada para produzir o Gavi?

9) Caluso é uma uva?

10) Quais as subvariedades de Nebbiolo utilizadas no Carema?


As perguntas deverão ser feitas longe de celulares e Google.


Se o “professor” responder 3 ou mais perguntas, certamente é leitor de B&B.

Faça a experiência e nos relate o resultado.



Boas risadas…...










quinta-feira, 3 de setembro de 2015

BAROLO III




Percorrendo, hoje, as tortuosas estradas que serpenteiam entre as colinas (Langhe) nas proximidades de Alba, nota-se, facilmente, que a região transpira riqueza.


Vinhas bem cuidadas, aldeias de sonho, incontáveis restaurantes, muitos dos quais ostentando estrela Michelin, vinícolas famosas, centenas de agroturismos, castelos medievais…… É quase impossível ficar insensível diante de tanta beleza e qualidade de vida.





As estradas de hoje, que os potentes e imponentes SUV dos viticultores percorrem velozmente, há poucas décadas conheciam apenas velhos Fiat “Millecento”, econômicas “Cinquecentos” e raríssimas “Alfa Romeo”.

Os vinhateiros, que desciam até Alba, nos dias de feira, para trocar seus vinhos por comida, roupa, sapatos, eletrodomésticos etc, já não existem e são apenas lembrados e comentados quando alguém, nostálgico, deseja recordar, evocar um distante e folclórico passado


As vinhas, que eram vendidas, no após guerra e até os anos 70, por preço de banana, valem, hoje, verdadeiras fortunas.

É fácil entender, então, os preços salgados dos vinhos ali produzidos, especialmente, Barolo e Barbaresco,

Uma estatística: Em 1965, com o salário-mínimo, da época, era possível comprar, aproximadamente, 170 garrafas de barolo.

Com o salário atual, 40 garrafas, quando muito, entrarão em sua adega.

Deu para perceber o porquê de tanto bem-estar?


Nos anos 70/80 ninguém imaginaria que uma garrafa de Barolo Monfortino, por exemplo, alcançasse os atuais hiperbólicos 500 Euros (quase dez salários daqueles anos).

Os preços das vinhas, então…….

A Gigi Rosso, histórica vinícola de Castiglione Falletto, cujo proprietário atual coleciona carros esportivos, potentes e caríssimos, vendeu os 9 hectares da “Cascina Airone”, por um valor que supera os 7 milhões de Euros.

O comprador?


A vinícola Giacomo Conterno, de Monforte.

A Conterno produz o “Monfortino” e também, olha o acaso, é proprietária da “Cascina Francia”, cujas vinhas confinam com as da “Cascina Airone”


Você já calculou o valor pago, pelos 9 hectares, em reais?

É sempre bom lembrar que para produzir uma garrafa de bom Barolo, são necessários 7 Euros (já engarrafado, etiquetado, embalado e pronto para ser expedido) um pouco mais, um pouco menos.

Imagine, então, o lucro de quem consegue vender uma garrafa por 50/70/90 Euros.

A riqueza trouxe a reboque a ganância.

Nos anos 60, as vinhas de “Nebbiolo da Barolo”, cobriam 500 hectares do território e as garrafas produzidas somavam 3 milhões.


Hoje as vinhas de “Nebbiolo da Barolo” se expandem por 2.000 hectares e as unidades engarrafadas ultrapassam os 12 milhões.

Se alguém se assustar, com o inchaço da área do Barolo, vai enfartar quando souber que em Montalcino, na mesma época (anos 60), apenas 60 hectares eram habilitados a produzir uvas para a produção de Brunello e as garrafas, anuais, não superavam 150.000 unidades.

Hoje Montalcino derrama no mercado 7 milhões de garrafas de Brunello e a área plantada supera os 2.000 hectares.

Resultado: o que há no comércio, de Barolo e de Brunello, que deveriam ser jogados no lixo, é impressionante.

Terrenos, em que os antigos viticultores não teriam plantado nem batatas, abrigam, hoje, vinhas de “Nebbiolo da Barolo” che fa cagare..”


".....Fa cagare”, (literalmente,“faz cagar”) é uma expressão tipicamente italiana que os enófilos da bota costumar exclamar, alto bom som, quando o vinho é de baixa qualidade.

Quem conhece a região, as colinas, a cultura, seu povo, suas tradições, obtêm informações e valiosas dicas onde encontrar grandes Barolo sem violentar a carteira

Eu, que tenho o privilegio de ser amigo de Massimo Martinelli, um dos maiores “barolistas” que conheço, aprendi os caminhos, não das pedras, mas das vinhas.


Fugir das etiquetas “carimbadas” é a minha especialidade.

Resultado: em minha adega repousam soberbas garrafas de Barolo de 25/30 euros.



Na próxima matéria: “Um Grande Barolo”.