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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PENSIERO


 


Se um dia tiver que listar os 20 melhores vinhos brancos, já bebidos, o “Pensiero” de Valter Bosticardo estará na relação.

Antes de falar do grande vinho de Bosticardo é necessário retroceder alguns séculos e conhecer as grandes dificuldades encontradas pelos pioneiros na vinificação do “Moscato Metodo Classico”.
 

 Em Canelli, em 1895, nascia, pelas mãos dos irmãos Gancia, o primeiro espumante italiano: “Moscato Champagne” (qualquer semelhança com a gaúcha Peterlongo, que produz o único Champagne fora da Champagne, é mera coincidência...).
 

Carlo Gancia, para poder realizar seu sonho, foi morar em Reims, trabalhou na Piper-Heidsieck, aprendeu com os franceses (sempre eles...) os segredos da espumantização, voltou à Itália e começou a produzir os espumantes com uva Moscato.
 

Meu avô,  no final dos anos 1930, trabalhou em uma adega da região que produzia espumantes
 

O velho Nino contava, para os netos, que todos os funcionários da vinícola, para não se ferirem, muitas vezes gravemente, com as constantes explosões das garrafas, vestiam espessos aventais de couro e máscaras de ferro parecidas com as usadas nas competições de esgrima.
 
 



“Eram explosões assustadoras. Bastava a temperatura subir que começava a guerra....” (ele havia lutado na guerra de 1915/1918).

O “Asti Metodo Classico”, quando engarrafado, atinge entre 6 e 9 atmosferas.

  As garrafas, mais espessas que as normais, são testadas para suportar até 15 atmosferas.

Para dar uma ideia da enorme pressão, presente nas garrafas, bastaria lembrar que a calibragem ideal para os pneus da “Ferrari California” é de 2,2 atmosferas.

A tecnologia já mitigou e quase eliminou o “bombardeio” nas adegas dos produtores de “Asti Metodo Classico”, mas Bosticardo confessa que em sua primeira experiência, para produzi-lo, penou e muito.


 

“Na primeira tentativa, sem a câmara frigorífica e quase por brincadeira, resolvi vinificar o espumante em um “crotin” (antigas adegas escavadas no subsolo das casas do interior) bem frio. Em um único dia 50% das garrafas explodiram como bombas. Fiz o degorgement, daquelas que sobraram, em um freezer, tampei manualmente e levei uma garrafa para Guido em Costigliole (1). Guido provou, gostou, comprou todo o meu estoque e me incentivou a produzir novamente. Sem a “força” de Guido não teria continuado a vinificar o “Pensiero”.

Valter revela, aos poucos, a “luta” para produzir o seu espumante método clássico: “Utilizo apenas uva Moscato das vinhas de minha propriedade. A uva deve ser muito rica em açúcar e outras substâncias. Por esta razão a vindima é tardia assim consigo quase 15ºde álcool. A prensagem é suave, a decantação do mosto é estática, as filtragens são no mínimo 4 e a conservação é feita em câmaras frigorificas.

No verão sucessivo à vindima realizo a tiragem com garrafas especiais (testadas até 15 atmosferas) e com leveduras autóctones que o Moscato preservou e nada mais. Engarrafo com cerca 130-140 gramas de açúcar residual sem adicionar absolutamente mais nada.

A estocagem das garrafas, sempre eretas, acontece em locais muito frios para desacelerar a fermentação.  Quando o vinho atinge 6 atmosferas e 8º de álcool diminuo ainda mais a temperatura para evitar explosões.

O “remuage” é manual sobre pupitres e dura 40 dias.

O “Pensiero” tem uma evolução incrível: estou vendendo o “Millesime” 1991 com “degorgement realizado em 1996. Todos aqueles que o experimentam ficam boquiabertos com este Moscato que, mesmo depois de tantos anos, conserva um formidável frescor”.

Sou um feliz e raro cliente de Valter que ainda guarda na adega 3 garrafas de seu “Pensiero 1996”.
 

Tentei, nem sei quantas vezes, “decifrar” os aromas do “Pensiero” e confesso jamais ter conseguido.
 

A cada momento há novos odores, que se sobrepõem aos anteriores,

Quando acho que percebi o grapefruit, aparece o damasco, que deixa espaço para o mel que vai sumindo com a chegada do........

Deveria, eu, ter o nariz privilegiado do Beato Salu, do Marcelinho Flatulential, do Secondo me Bilu Didu Teteia ou de outro “sabujo” de nossa critica vinícola para poder captar todos os aromas, mas infelizmente sou um simples e mortal ser humano.

Recomendo, aos que visitam o Piemonte, um pulo até “La Tenuta dei Fiori” para comprar algumas garrafas de “Pensiero”.

Não se preocupe com o valor das últimas garrafas: Bosticardo, que é um viticultor honesto e correto, vende a primeira e a última garrafa pelo mesmíssimo preço: 25 Euros.

Bettu, para ser um grande viticultor , não basta comprar o “Gamba di Pernice” , é preciso saber vinificar.

  
 

Bacco

PS. Em nosso último encontro Bosticardo me confidenciou: “Vou vinificar o “Pensiero” mais uma ou duas vezes”

Perguntei o porquê

Valter respondeu: “Não tenho mais tempo ,15 anos são muitos....”

1) Guido Alciati e sua mulher Lidia , grande cozinheira, foram, durante muitos anos e até a morte de Guido,  proprietários de um dos melhores e mais premiados restaurantes italianos, em Costigliole.

 

8 comentários:

  1. Ciao, Pestes.

    Essa conversa de produtor honesto colocou meus 6 neuronios em exercicio. Ha alguma correlacao no mundo do vinho italiano entre a latitude e o indice de honestidade do produtor (nao so em termos de preco, mas na maneira como sao feitos os vinhos)?

    Me explico: Secondo me e o restante da populacao da terra ha o fato que diz quanto mais localizado ao norte do pais menos trambique ha (notar que escreo menos trambique e nao mais honestidade) na sociedade desse local.

    Com seus varios anos de vivencia na zona rural italiana, secondo voi, essa correlacao FORTE tambem se aplica aos vinhos? Os produtores sicilianos seriam uma representacao da sociedade mais trambiqueira da regiao? Os da Puglia? E os produtores que fazem fronteira com a parte mais germano-seria da europa? Seriam os mais corretos?

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  2. Ciao , Provocante Provocador.
    vou responder ao seu comentário com uma matéria Aguarde!..

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  3. Boa Bacco! Terei que achar o Pensiero, mas enquanto não o faço, aproveito para uma vez mais tentar 'sugar' seu conhecimento e fazer uma pergunta: conhece o Barolo do Grupo Araldica? Presta? Alguma informação digna de nota? Parece - me que é uma cooperativa?

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    Respostas
    1. Nao deveria, mas vou ajudar: Nao entra nessa

      Talvez os toscanos deles sejam potaveis (ate hoje tenho minhas duvidas).

      Nao complica! Para que comprar se esta em duvida? Sao vinhos relativamente baratos.

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  4. Não conheço e nunca bebi nenhum, de seus vinhos.
    Arrisque

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  5. Achei que já tinha dado um feddback por aqui, mas pelo jeito não enviei. Enfim, já tinha o vinho e, por isso, acabei experimentando. E não achei ruim, longe de ser algo extraordinário, mas agradou.
    Obrigado pelas dicas Bacco e Anônimo

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