Facebook


Pesquisar no blog

domingo, 7 de dezembro de 2014

O VINHO DO CAPITÃO NEMO


 




 

A revista “ADEGA”, talvez, sondando e preparando o terreno para alguma importadora interessada em trazer e nos impingir mais um produto marqueteiro e caríssimo, escreve, ou melhor, transcreve a matéria abaixo.

 


O produtor italiano Pierluigi Lugano (65) ficou conhecido por armazenar seus vinhos debaixo d’água quando seu espaço na superfície se esgotou. O vinho armazenado é o Abissi, que em italiano significa “profundezas” ou “abismo”, e é produzido a partir das variedades italianas Vermentino e Bianchetta.  As garrafas são colocadas em “gaiolas”, e ficam dentro de garrafas maiores. A partir daí, são afundadas até o leito do mar, numa profundidade de 200 pés, na Riviera Italiana.

De acordo com o produtor, armazenar vinhos e espumantes abaixo da superfície pode ser até melhor que em uma adega subterrânea. “A temperatura é perfeita, não há luminosidade, a água previne que entre até a menor quantidade de ar, e a pressão constante mantém as bolhas em movimento, o que é ótimo para o vinho”. Além disso, o método é seguro e prático, as garrafas são colocadas em gaiolas de aço inoxidável, são completamente vedadas e afundadas na costa oeste de Liguria, no litoral Italiano.

A primeira leva foi colocada em 2009, quando passou por um período de testes, e o projeto tem sido levado adiante até hoje. O vinho de Lugano, o qual especialistas afirmaram possuir “um toque de maçã assada e ser um pouco temperado”, é guardado debaixo do mar

 


É impressionante como os leitores de B&B participam ativamente com o blog detectando e informando todas as eno-picaretagem que surgem em nosso risível e tragicômico mundo do vinho.

A revista vende uma imagem do Lugano que não corresponde à verdade e nem por um instante pesquisa o assunto mais profundamente.

Lugano, que mora em Chiavari, é proprietário da “fúnebre” (parece a adega da Família Adams) enoteca “Bisson” e desde a década de 80, quando abandonou a profissão de professor de história da arte, se dedica à produção de vinhos.

Os vinhos de Lugano, apenas sofríveis, são vinificados com castas autóctones e provenientes de vinhedos implantados nas cidades próximas.

Nunca um vinho de Lugano se destacou a não ser pelo peço que é sempre mais alto do que o dos concorrentes e suas garrafas jamais ganharam algum destaque.

 Lugano, todavia, é inteligente, esperto e obstinado.

  Uma genial jogada, a do espumante “Abissi”, lhe proporcionou uma exposição na mídia em todos os cantos do mundo.
 

 O nosso personagem não imaginava, nem previa, tanto sucesso e quando se recuperou da surpresa aproveitou a propaganda gratuita e faturou como nunca.

A jogada.

Os vinhos da “Bisson”, que nunca conseguiram impressionar pela qualidade, eram distribuídos, em sua quase totalidade, apenas no mercado regional e praticamente desconhecidos nacionalmente.

Uma coisa Lugano sempre soube fazer: valorizar suas etiquetas.

Os vinhos da Bisson são sempre mais caros do que o dos concorrentes.

Com o sucesso comercial do Prosecco, produzir espumante virou mania na Itália.

 Tentando repetir o sucesso das bolhas vénetas, um tsunami de espumante surgiu em todos os cantos da Itália utilizando as mais diversas uvas.
 

Lugano, sempre atento às tendências, resolveu “espumantizar” duas castas locais: Vermentino e Bianchetta.
 

Os vinhos produzidos com Vermentino e Bianchetta, não emocionam ninguém e podem ser encontrados nas prateleiras dos supermercados da Ligúria por 2/6 Euros.

Vinhos para o dia-dia, vinhos servidos em taças nos bares e trattorie baratas.

Um espumante de qualidade, produzido com Vermentino e Bianchetta é tão improvável quanto o Lula admitir, algum dia, que sabia de tudo.
 
 

Impossível!

Construir uma adega, para armazenar e envelhecer espumante, não é tarefa fácil e muito menos barata, ainda mais na Ligúria onde os espaços são poucos e caros.

Em compensação há mar de sobra e há Portofino.

A tentativa não é nova, (os croatas já experimentam o mesmo sistema desde 1990), mas Lugano foi o primeiro que a utilizou comercialmente.

Garrafas (6.500) prontas, barcaças contratadas, mergulhadores preparados, televisão e jornais locais contatados......Tchibummmm: o “Abissi” foi para o fundo do mar, nas aguas da belíssima e preservada “San Fruttuoso”.
 

San Fruttuoso, sua abadia e meia dúzia de casas, para quem não sabe, era uma antiga propriedade dos Doria e hoje pertence ao “Parco di Portofino”.

Lugano sabia que mergulhar garraras, no mar de Portofino, lhe renderia bons fruto$, mas nunca imaginou que a jogada de mestre teria repercussão mundial e que seu “Abissi” seria notícia até no “New York Times”.

O resultado é conhecido: extraordinário sucesso de vendas, incontáveis pedidos em carteira, (como há trouxas no mundo…), fantástica lucratividade.
 

No ano seguinte, Lugano, manda para o fundo do mar mais de 13.000 garrafas.

Um detalhe: O “Parco di Portofino” cobrou pelo “mergulho”, das primeiras 6.500 garrafas, 1 Euros por unidade.

 Lugano, com inúmeros pedidos em carteira, no ano seguinte   mandou para o fundo do mar de San Fruttuoso, mais ou menos, 13.000 unidades.

 Quando a administração do “Parco di Portofino” soube, que Lugano havia mergulhado 13.000 “Abissi”, exigiu a atualização e compensação financeira correspondente.

Lugano, cuja maior qualidade não é exatamente a de ser um mão aberta, não quis pagar.
 

A briga foi longa, desgastante e finalmente a administração do “Parco de Portofino, mandou Lugano e seu “Abissi” mergulharem em outras águas.

Hoje o espumante, de Vermentino e Bianchetta, dorme nos fundais de Sestri Levante e não mais poderá usar a DOC “Portofino”.

Sestri é bonita, mas não possui nem 5% da notoriedade e charme de Portofino.

Lugano perde o apelo de Portofino, o “Abissi” em poucos anos será esquecido, mas não antes de ter enchido os bolsos do marqueteiro com o dinheiro das trouxas que fizeram e fazem fila para pagar, por um “Prosecco” lígure (sim, a qualidade do Abissi pode ser comparada ao do Prosecco) mais do que eu pago por um fantástico Champagne “Le Mont Benoit” do Emmanuel Brochet.
 

Enquanto houver trouxa, haverá vivaldinos: Lugano é um deles (vivaldino).

Bocca

 

8 comentários:

  1. Ola pestes,

    A propaganda do vinho submerso ja esta espalhada faz um bom tempo e ate hoje me surpreendo com o numero de pessoas experientes no vinho que caem no truque do vinho subaquatico. Ha alguns desses vinhos na terra do Lula empreiteiro mor, mas como de habito os vinhos sao ruins. Ou alguem acha que um vinho fantastico, caro, raro seria afundado no fundo do mar?

    Dizem que ha uma importante predadora gaucha que vai afundar os vinhos no litoral gaucho. Tomara que nao aconteca o maior crime ambiental de todos os tempos. Eu nao vou limpar nenhuma gaivota depois.

    ResponderExcluir
  2. Grande comentário KKKKKKKK. Gaivotas "esmerdeadas"

    ResponderExcluir
  3. O pior é que venderá que nem água reconstituida aqui no Brasil. Provavelmente enviarão algumas garrafas para blogueiros "formadores de opinião", para que encham o borbulhante de elogios e tcham, tcham, tcham, tcham!

    ResponderExcluir
  4. Alguém está acompanhando a ótima série aprendiz de sommelier? Informações importantíssimas, tais como existirem cerca de dois milhões no mundo e da.angustia de não conseguirmos provar nem 1 por cento disto tudo ao longo da nossa vida!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E de quantas bocas livres corresponderiam a esses tantos vinhos. O homem ama comer e beber de graça.

      Excluir
  5. E dobrará de preço depois de conquistar a medalha de ouro na prova Internacional de Vinhos de Parangolé do Sul.

    ResponderExcluir
  6. Se colocarem que o vinho acompanha os ritmos biodinâmicos marinhos, ganhará muitos fãs.

    ResponderExcluir
  7. Mas não dá pra negar que a jogada de marketing é genial!

    ResponderExcluir