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domingo, 31 de agosto de 2014

ALSÁCIA X MARANHÃO


Se não fosse ateu e tivesse intimidade com Deus, perguntaria qual o critério utilizado para determinar que uma criança nascesse em Ribeauvillé, na Alsácia e outra, no mesmíssimo dia, em Marajá do Sena, no Maranhão.

Antes que a turma do “cruz-credo” me envie comentários irados, anátemas, impropérios, ameaças fundamentalistas etc., devo salientar que o pensamento me ocorreu no exato momento em que bebericava, antes do almoço, uma taça de Riesling em um bar localizado na pracinha da belíssima aldeia alsaciana.

Algumas crianças brincavam, alegres, na praça sem serem vigiadas ou atropeladas.

A ruidosa algazarra chamou minha atenção e, sem querer, comecei a conjecturar.

Aqueles meninos nasceram em um hospital público, frequentam uma escola pública, não brincam nas aguas fétidas de um esgoto a céu aberto, não se borram com diarreias incontroláveis e, com toda certeza, ao alcançarem a idade adulta administrarão Ribeauvillé sensata, honesta e racionalmente como fizeram seus pais, avós, bisavós….

Em Ribeauvillé nunca haverá estádio gigantesco, pedrinhas violentas e desumanas, sarneys, lobinhos, lobões, chacais ou outros oportunistas predadores.

Ribeauvillé, no próximo século, continuará linda, limpa, humana, acolhedora e tranquila.

 Em 2087, outras crianças, brincando na mesma praça serão observadas por um turista brasileiro, ateu ou não, que, ao beber uma taça de Riesling, pensará as mesmíssimas coisas que acabei de escrever.  
 

Enquanto isso Marajá do Sena, em 2087, será exatamente a mesma merda de hoje.

 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

VINIDAMARE III


 


Falar de vinhos, no estilo B&B, é atemporal.

Sem a preocupação da notícia fresca, da informação imediata ou urgente, deixei para o final meus comentários sobre os três melhores produtores que participaram da “VINIDAMARE” em santa Margherita.

Enquanto percorria os corredores da Villa Durazzo, onde dezenas de vinícolas expunham suas garrafas, imaginava o que aconteceria, no Brasil, se eventos como o “Vinidamare fossem comuns, corriqueiros, semanais   como acontece em muitas cidades italianas.

 Acredito que os assíduos frequentadores de bocas-livres, blogueiros, (de)formadores de opinião, membros da AB$, $BAV, etc.,   viveriam em permanente porre.

Mesmo na sofisticada e exclusiva Villa Durazzo pude notar vários “profissionais” da região trocando pernas.

Dez Euros não assustam ninguém, razão pela qual há enófilos que frequentam os encontros com o firme propósito de encher a cara.

Não adianta cuspir: Um pouco de álcool é sempre bebido.
 

Minha “técnica” continua a mesma: Selecionar meia dúzia de produtores (com o tempo se adquire a manha e é fácil descobrir os melhores), degustar com calma e abandonar os eventos, no máximo, após uma hora de libações.

Outra possibilidade: Encontrar algum representante amigo (conheço vários...) e pedir conselhos sempre preciosos.

Em matéria anterior revelei que Paolo Cogorno, representante de algumas vinícolas regionais e de uma dúzia de Maison de Champagne, me indicou o caminho das pedras e sem perder muito tempo fui direto ao que havia de mais interessante.

As garrafas mais importantes, do encontro, vinham das “Cinque Terre” e de Albenga.

Comecemos com os vinhos das” Cinque Terre”.
 

O território vinícola das “Cinque Terre”, que começa em Monterosso, passa por Vernazza, Corniglia, Manarola e alcança Riomaggiore, se estende, em linha reta, por pouco mais de 9 quilômetros, mas é um dos mais incríveis e belos que eu conheço.
 

As vinhas são cultivadas em declives tão acentuados que precisam de terraceamentos para poder viabilizar o plantio, manutenção e colheita. 

Os terraceamentos, construídos há séculos pelos ciclópicos lígures e hoje tombados pela Unesco, abrigam as três uvas autóctones, Albarola, Bosco e Vermentino, que dão vida à DOC “CINQUE TERRE”.
 

A DOC “Cinque Terre” coloca no mercado 270/300 mil garrafas por ano.

Produção pequena (a Salton, sozinha, infesta o mercado nacional com quase 30 milhões de garrafas) que é toda consumida na Ligúria, particularmente, nas aldeias que compõem a DOC.

O vinho Cinque Terre” não é um vinho excepcional; é um vinho de boa qualidade, mas que não deveria custar tanto (10/15 Euros nas enotecas).
 

Apesar do preço salgado o vinho não conhece crise.

A razão?

Somente nos meses de junho a setembro 350/400 mil turistas visitam, todos os anos, as famosa cinco aldeias lígures.

Nos bares, restaurantes, enotecas, o vinho local é fartamente consumido e, não raramente, adquirido como souvenir.
 

Façam as contas e perceberão que, com um canal de venda quase exclusivo, 300 mil garrafas praticamente evaporam.

A grande procura e a falta de conhecimento vinícola da turista contribuem para que o Cinque Terre DOC, na sua versão mais popular, seja um vinho nada além de sofrível.

Neste cenário, de muita facilidade nas vendas e pouca preocupação com a qualidade, há, ainda bem, meia dúzia de produtores, com inventiva e seriedade, que se destacam: Sebastiano Catania é um deles.
 

Catania, em seu terreno de 0,5 hectares localizado na colina denominada Vetua, ao sul de Monterosso, extrai 3.000 garrafas de um soberbo vinho branco, que por sua cor um pouco mais escura, do que a recomendada pela denominação, não obteve a DOC.
 

Catania, apresentou o vinho duas vezes ao consorcio regulador da DOC e em ambas não recebeu o reconhecimento.

O seu “VÈTUA” não é DOC, mas Sebastiano não se importa com a exclusão e continua vinificado, suas 3.000 ótimas garrafas, com dedicação, inteligência e adicionando, às tradicionais Albarola, Bosco e Vermentino, outras três raríssimas uvas locais quase desconhecidas: Picabun, Brugiapagià e Frappella

 O resultado é um vinho com aromas de flores, vegetação mediterrânea, que na boca chega ser quase tânico, muito longo, surpreendente e com uma personalidade única e inconfundível.

O VÈTUA é um grande Cinque Terre que recomendo com entusiasmo.
 
Já sei, já sei..... 3.000 garrafas de um belo vinho são poucas, difíceis de encontrar e caras.
 

Nada mais errado: O Vètua, que custa entre 15/18 Euros, é encontrado em inúmeras enotecas e restaurantes de Monterosso, Vernazza, Riomaggiore, Manarola, Corniglia.

A invasão de turistas brasileiros, nas Cinque Terre, me faz crer que o Vètua será, em breve, degustado por muitos leitores de B&B

Confira.

Bacco

PS. Na próxima matéria vinhos de  Battè , Capellini e De Andreis.

 


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

FREISA III




Bom dia amigos! História muito bem contada, fiquei com uma vontade muito grande em provar um vinho elaborado com a uva Freisa. Pesquisei e encontrei na Mistral R$ 383,00...vou me programar e ir a Itália e faço uma degustação nos produtores, acho que é mais inteligente.
Um grande abraço.
Roberto

 

Recebi o comentário acima e levei um susto.

Uma ótima Freisa custa, na Itália, 7/10 Euros em qualquer loja, enoteca, bar supermercado ….

Para confirmar o assalto consultei o site da Mistral e efetivamente a Freisa Mondaccione, da vinícola Coppo, custa hiperbólicos 130 Euros.

Será que a Coppo fez estágio na Carraro?
 

É sempre bom lembrar que um ótimo Barolo do Alessandria, Schiavenza, Massolino, Aurelio Settimo, Parusso, Marcarini etc. podem ser adquiridos, na Bota, por 27/30 Euros.
Marcarini Barolo Brunate 2009
Oggi come un tempo, Anna Marcarini Bava, con la collaborazione della figlia Luisa e del genero Manuel Marchetti, continua con passione a condurre i vigneti di famiglia e a vinificarne le uve secondo i dettami della più rigorosa tradizione piemontese.
Vedi 29,90
Spese: n.d.
Totale: 29,90
Massolino Barolo Massolino 2008
Molteplici le sensazioni, ci troviamo di fronte ad un vino corposo, classico e ben strutturato che non teme l'invecchiamento e rappresenta in modo egregio il carattere importante delle nostre terre.25,80
Spese: n.d.
Totale: 25,80

Resolvi pesquisar mais: O Mondaccione, Freisa da Coppo, custa, na Itália, 27/30 Euros exatamente o preço de um bom Barolo.

Não me conformei.

Uma Freisa não pode custar tanto quanto um Barolo a não ser que......

Mondaccione é o melhor Freisa do Piemonte para Robert Parker. Esta intrigante uva, parente distante da Nebbiolo e imensamente apetitosa para Hugh Johnson, aparece aqui em uma versão robusta, com complexo bouquet de frutas maduras, notas de alcaçuz e grande estrutura. Para Parker, é uma grande pedida para quem procura algo novo e diferente, capaz de envelhecer por mais de 10 anos.

Eis desvendado o mistério: Coppo + Mistral + Parker + Johnson = FREISA-ESTUPRO!


Quando os famosos pontos de Parker e Cia.  entram em cena quem leva ferro é sempre o consumidor.

Dionísio.

 

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

FREISA II


 


A Freisa, casta tipicamente piemontesa, pode ser encontrada em quase todas a províncias da região.

A Freisa é uma casta rustica, prefere terrenos acidentados (colinas), aguenta secas prolongadas e resiste bem à doença (exceto o oídio).

A Freisa, que já teve seus momentos de glória, passou por um período de quase abandono e esquecimento e, atualmente, reinicia uma trajetória de ascensão e redescoberta.

Difícil a Freisa!

Um vinho que não conhece meio termo: Ou você ama ou detesta.
 

Se você detesta, prova uma vez e foge à simples menção de mais uma taça, seja ela de Freisa frisante, tranquila ou doce (muito difícil de encontrar).

Se você ama, quando a encontra, em uma carta de vinho, é a primeira escolha.

Uma coisa porém deve ser salientada: Gostando ou não, a Freisa não é um vinho que passa despercebido, a Freisa é um vinho marcante.

Apesar da difícil comercialização, pouca penetração no mercado, consumida apenas (quase 100%) no território piemontês, um exército de renomados produtores, especializados em Barolo, tem verdadeira paixão por esta casta.
 

Giuseppe Rinaldi, Vajra, Bartolo Mascarello, Cavallotto, Giuseppe Mascarello, Gianni Voerzio, Brezza, Gigi Rosso, Brovia, Coppo etc. são alguns pesos pesados da viticultura piemontesa que adoram a Freisa e, mesmo sabendo de seu limitado sucesso comercial, a vinificam com orgulho e prazer.

A Freisa tem seu público cativo e fiel: Martinelli e eu somos fãs de carteirinha.

A casta é emblemática de duas regiões vinícolas:  Monferrato e a província de Torino.

Na província de Torino a casta ganha a denominação “DOC Freisa di Chieri”
 

A Freisa pode ser frisante ou normal (ferma), seca ou doce (quase ninguém mais a vinifica nesta versão) e entra na composição de muitos vinhos do Piemonte, Barbera e Grignolino em primeiro lugar.

As puristas certamente discordarão, mas minha preferência recai, sem dúvidas, na “DOC Chieri”, versão frisante.

Viva, fresca, com sua espuma alegre que emana aromas de   violetas, sua cor rubi brilhante, a suave veia tânica, seu sabor de rosas e framboesa, a Freisa é uma festa para os olhos e paladar.

No verão italiano é excelente, também, como aperitivo.

Não excessivamente alcoólica, quando degustada fresca (14/15º) é um perigo: É quase impossível parar de encher o copo....

Sem mais delonga, uma preciosa dica: Alguém conhece Cocconato?

Acredito que nenhum de nossos renomados sommerdiers já tenha ouvido falar e nem saber do que se trata.

Cocconato é uma incrível aldeia da província de Asti.

Em Cocconato é possível admirar, em dias claros e solares, um dos mais fascinantes panoramas das colinas do Monferrato e dos Alpes Piemonteses.
 

Além de ótimos restaurantes, recomendo com entusiasmo o “Cannon D’Oro” e “Locanda Martelletti”, há muito endereço para beber e beber bem.

Procure um bar, (há muitos) escolha um que tenha mesas no terraço, peça um prato de salames locais, um punhado de “grissini”, uma garrafa de Freisa e relaxe.

Tenho certeza que, ao limpar o bigode avermelhado, que cada taça de Freisa lhe deixará nos lábios, brindará à saúde desta dica.

Viva a Freisa!

Em Cocconato e região, outros grandes vinhos, quase esquecidos, devem ser lembrados: Grignolino e Rubino di Cantavenna.

Se o salame for bom e de bom tamanho, a sede muita e a companhia boa, uma garrafa de Freisa antes, uma garrafa de Grignolino durante e uma de Rubinho di Cantavenna depois .......Bem, depois é melhor não dirigir.

PS. Antes que alguém, da AB$, queira me corrigir, esclareço que Freisa, Barbera, Bonarda, Albana, Vernaccia etc., na cultura popular piemontesa são femininas.

Quando alguém quer beber em um bar pede: “Uma Barbera, uma Freisa, uma Bonarda.....”

sábado, 2 de agosto de 2014

MERLOTONE II


    



Cretino, você acha que o vinho é só uva ? Tempo de espera , maquinário , vinhas , embalagens , mao de obra ,são grátis? Você acha que com 4 reais se pode produzir um vinho com uvas desidratadas?
Você é não sabe nada daquilo que escreve . Va trabalhar seu vagabundo puxador de saco de importadoras.


 

O simpático comentário é de um anônimo que, certamente, não tem interesse algum na vinícola que produz o Merlotone.

O homem das vinhas e vinhos está apenas interessado em nos ensinar cálculos, custos, lucros cessantes, constantes e, no caso do Merlotone, incessantes.    

Já escrevi, sei lá quantas vezes, sobre o custa de produção, do vinho no Brasil, apresentando dados da EMBRAPA.

Vamos à luta mais uma vez....
 

Custo da uva:

Calculamos o custo do kg da uva pela tabela do Ministério da Agricultura que é quem determina o preço mínimo a ser pago ao produtor.

O preço mínimo nem sempre é respeitado, mas façamos de conta que a Argenta-ria é uma vinícola correta e que paga R$ 1,70 o quilo da melhor uva Merlot (BABO 20) existente no mercado.

A Argenta-ria utilizou 1.500 kg de uva para produzir 600 garrafas.

Uma simples divisão informa que a matéria prima, utilizada na vinificação de cada garrafa de Merlotone, custou à vinícola R$ 4,25.
 

A EMBRAPA me informa que a o vidro custa R$ 0,75, a rolha R$ 0,70, a etiqueta e contra etiqueta R$ 0,50, a caixa de papelão (dividindo o valor por seis unidade) R$ 0,28.

Uma garrafa de Merlotone, pronta, etiquetada, embalada custa, então, R$ 6,48.
 

Hoje amanheci bonzinho, acredito em todas as balelas que o enólogo “enfant prodige” da Argenta-ria afirmar e acrescento, aos R$ 6,48, o juro relativo aos 4 anos em que o Merlotone permaneceu repousando (será tanto assim ??????), igual um belo adormecido, nas entranhas da Serra Gaúcha:  10% ao ano = 46,65%

Tá de bom tamanho?

Será que esqueci alguma coisa?

Os críticos? Não, os críticos, não......  São tão baratos que qualquer garrafa de Merlotone os compra
 

Chegamos então ao custo final :R$ 9,50.

O cálculo se baseia na quantidade declarada de 600 garrafas.

Eu sou cético e não acredito nem em meia palavra de quem   vende um vinho nacional por R$ 290.
 

As garrafas podem ser 600, 6.000, 8.000, 10.0000… Como já afirmei, não há controle algum

O mesmo direito, que a Argenta-ria tem, em estuprar os bolsos dos enófilos, eu tenho em não acreditar em suas declarações.

Se as unidades produzidas forem maiores, que as 600 declaradas, o preço, (R$ 9,50) cai sensivelmente, mas deixemos como está.

Um lucro de mais de 3000% aponta para um bom negócio ou ainda é pequeno?
 

Acredite, se puder......

Dionísio